Visita ao Hospital Crescêncio Silveira… uma retrospectiva do semestre.


Ao experienciar o encerramento do primeiro semestre do curso, tivemos a oportunidade de acompanhar a rotina de trabalho do Hospital Geral Crescêncio Silveira, no município de Vitória da Conquista. Posso dizer que essa riquíssima experiência trouxe muito mais do que conhecimento técnico das prerrogativas de funcionamento do local no que tange aos pacientes psiquiátricos, mas também, uma oportunidade de consolidar os aprendizados adquiridos nesses meses.
Primeiramente, é importante salientar que os leitos psiquiátricos presentes no HCS configuram-se como resultado do cumprimento da lei 10.216/2001, conhecida como lei de Reforma Psiquiátrica, que estabelece a redução progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos em contraponto ao aumento dos serviços substitutivos.

Mas, o que foi a Reforma Psiquiátrica?

Segundo Martinez e Silva (2005), ela representa um movimento contemporâneo ao Movimento Sanitário, dos anos 70, que culminou em um conjunto de movimentos sociais, primeiramente pelo Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, em prol de modificações na assistência, nos direitos e autonomia dos pacientes psiquiátrico, além de denunciar os abusos e a mercantilização da doença mental.
Nesse ínterim, a mobilização culminou em conferências, projetos e leis que constituem a Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica. Contudo, é importante dizer que esse movimento não se configura apenas como cumprimento de normas e leis, mas, na verdade, é um processo político e social complexo que demanda ações intersetoriais para culminar em transformações de práticas, saberes, valores e no cotidiano da vida das pessoas, sejam elas com sofrimento psíquico ou não. Assim, pode-se concluir que a Reforma Sanitária é, antes de mais nada, uma luta para que os doentes mentais sejam inseridos na sociedade de maneira integral, gozando de direitos e respeito.
Por conseguinte, o HCS deve ser visto como um componente da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) participante e um serviço substitutivo ao antigo Hospital Psiquiátrico Afrânio Peixoto. Ele trabalha de forma articulada com outros serviços substitutivos, como ambulatórios, os Centros de Atenção Psicossociais (CAPs), as Residencias Terapêuticas, os programas, como “De volta para Casa” e a atenção básica em geral. Desse modo, a experimentação trazida pelo estudo da saúde mental de forma longitudinal no curso, o diálogo com um usuário do CAPs em sala de aula, a abordagem da RAPS em diferentes perspectivas nos componentes torna-se um elemento riquíssimo para complementar o caminho trilhado em prol da Luta Antimanicomial 
Em suma, ainda há um longo percurso para realmente consolidar a Reforma nessa terra brasílis, como foi visto na própria visita, ainda existem entraves como a segurança dos internos e a infraestrutura inadequada da área verde, revelando que esta ainda é uma fase de implantação. Por fim, é relevante dizer que, a abordar a alteridade, o respeito e a igualdade na sociedade civil - o que inclui as escolas médicas - configura-se como um grande pilar nessa empreitada e deve ser expandido de forma fervorosa, afinal, como diz Nietzsche “Já por muito tempo a terra foi um hospício!” (ANDRADE, p. 281 , 2007).

REFERÊNCIAS

MARTINES, Ricardo Luiz de Paula. SILVA, Alrenilda Aparecida da. Reforma Psiquiátrica: Um processo de institucionalização.  REVISTA CIENTÍFICA ELETÔNICA DE PSICOLOGIA – ISSN: 1806-0625. São Paulo: FAEF. Ano V – Número 9 – Novembro de 2007. Acesso em: 29 Julho 2018. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/nwK3qXRHqnENJMs_2013-5-10-16-22-25.pdf>

GERSCHAMAN, S. A democracia inconclusa: um estudo da reforma Sanitária Brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995. Acesso em 29 Julho 2018

ANDRADE, Daniel Pereira. Nietzsche: a Experiência de Si Como Transgressão (loucura e normalidade). São Paulo: Annablume, p.p. 281, 2007. Acesso em 29 Julho 2018. Disponível em: <https://books.google.com.br/books/about/Nietzsche_a_Experi%C3%AAncia_de_Si_Como.html?hl=pt-PT&id=Ojiw82AMucQC>. 

Share:

0 comentários